As oportunidades de trabalho criadas por um
mundo atento ao zelo contra o aquecimento global
1. Agricultor
Como a agricultura sustentável exige métodos orgânicos, locais e de pequena escala, em vez de máquinas e fertilizantes à base de petróleo, há uma enorme necessidade de mais agricultores. Não são fazendeiros quaisquer - os modernos profissionais do campo pre-cisam ter formação tanto em genética quanto em marketing. As estatísticas apontam para a necessidade de uma imensa reviravolta comportamental e econômica. No Brasil, apenas 19% da população é rural. Mais de 80% dos jovens entre 15 e 24 anos estão nos centros urbanos. Busca-se, portanto, renovação e vasto interesse por tecnologias nascentes, condições naturalmente atreladas à juventude. O problema: convencer os novos profissionais a viver no campo, onde são limitadas as expectativas de entretenimento e educação.
2. Técnico florestal
A atividade florestal moderna é uma complexa combinação de financiamento internacional de projetos, conservação e desenvolvimento. Segundo o Banco Mundial, a incrível cifra de 1,6 bilhão de pessoas depende das florestas para sua subsistência. Os técnicos florestais ajudam a população local a passar das práticas de corte e queimada para a silvicultura - ensinando, por exemplo, a exploração sustentável da mata ou o cultivo de espécies de valor mais elevado e crescimento mais rápido, sejam elas árvores madeireiras, frutíferas ou medicinais. Auxiliam também no controle do impacto ambiental. Lembre-se ainda que os projetos para evitar o desmatamento, que é a causa de cerca de um quarto de todo o aquecimento global, devem se tornar crucial fonte de créditos de carbono. Especialistas são, portanto, cruciais.
3. Portador de MBA em negócios verdes
As exigências impostas por novas legislações e o natural crescimento do interesse por posturas sustentáveis dentro das empresas já produzem efeito acadêmico: o aperfeiçoamento ancorado nos conhecimentos ambientais. Um executivo sem esse tipo de formação vale menos no mercado. A Fundação Getulio Vargas já tem um MBA em gestão de sustentabilidade.
4. Fabricante de turbina eólica
O vento é uma das mais promissoras fontes alternativas de energia e a que mais cresce, com 300 000 empregos em todo o mundo. Uma turbina tem 90% do peso composto de metal, o que representa uma oportunidade para que operários do setor automobilístico e de outros ramos da indústria reorientem suas habilidades. Segundo o Atlas do Potencial Eólico Brasileiro, a capacidade de geração de energia limpa para a próxima década é equivalente à de dez usinas de Itaipu. Há, portanto, um vigoroso mercado de trabalho, especialmente nas regiões litorâneas, onde a força eólica é naturalmente maior.
5. Biólogo conservacionista
A busca urgente para preservar a integridade de ecossistemas mundo afora e para quantificar o valor dos "serviços de ecossistemas" cria oportunidades no ensino, na pesquisa e no trabalho de campo junto a governos, ONGs e empresas privadas.
6. Desenvolvedor de sistemas de sustentabilidade
A economia verde pede um quadro especializado de desenvolvedores de softwares e engenheiros que projetem, construam e mantenham as redes de sensores e os modelos probabilísticos que sustentam fazendas eólicas, redes energéticas inteligentes, definição de pedágios urbanos e outros sistemas que substituem recursos naturais por inteligência. Programadores com experiência no uso de sistemas de gestão empresarial de larga escala têm vantagem aqui, bem como desenvolvedores familiarizados com aplicativos de fonte aberta e web 2.0.
7. Urbanista
O planejamento urbano e regional é um elemento crucial na busca pela redução da pegada de carbono nos centros urbanos. Fortalecer os sistemas de transporte de massa, limitar o espalhamento urbano, estimular o uso de bicicletas e retirar a ênfase dada aos carros são apenas uma parte do trabalho. Igualmente crucial é o planejamento de contingências, já que inundações, ondas de calor e bueiros entupidos pelo lixo se tornam problemas cada vez mais comuns nas metrópoles. O emprego nesse setor deve crescer 15% até 2016 em todo o mundo, e as vagas estão principalmente em governos locais, o que faz delas uma aposta razoavelmente segura.
8. Reciclador
Relatório da Organização Internacional do Trabalho informa que há, no Brasil, 500 000 pessoas vivendo da reciclagem de resíduos. O que se tornou meio de vida de populações carentes - reflexo econômico originalmente sem nenhum pé na sustentabilidade (quem recolhe detritos não o faz por responsabilidade ambiental, e sim por oportunidade de arrumar algum trocado) - pode virar um negócio profissional de real impacto.
Novas leis estão criando a necessidade de empresas especializadas que podem fechar o círculo reciclando e dando novas utilidades ao lixo eletrônico, roupas, sacos plásticos, entulho e outros materiais. Será preciso conhecimento técnico para participar dessa cadeia econômica.
9. Instalador de energia solar
A produção e a instalação de sistemas de energia solar já criaram cerca de 770 000 empregos no mundo. Instalar aquecedores de água que usam o calor solar e células fotovoltaicas em telhados é um trabalho relativamente bem remunerado. Nos Estados Unidos, país irradiador de quase todas as tendências econômicas, pagam-se de 15 a 35 dólares por hora nessa atividade. Onde há sol há oportunidades - e o Brasil tem enorme potencial para seguir essa trilha, ainda praticamente virgem. Hoje, em território americano, mais de 3 400 empresas no setor de energia solar empregam 35 000 funcionários.
A Associação das Indústrias de Energia Solar dos EUA prevê um aumento para mais de 110 000 empregos até 2016.
10. Empreiteiro da eficiência energética
Os edifícios representam até 48% do uso de energia e das emissões de gases do efeito estufa nas regiões urbanas. O Leed, importante certificação da construção "verde", tem mais de 3 000 empreendimentos comerciais e outros 2 500 residenciais atrelados às suas normas em todo o mundo. No Brasil, há apenas dez edifícios comerciais com o selo. Um outro método de controle, o Aqua, acrônimo de "alta qualidade ambiental", inspirado numa versão francesa, começa a ganhar espaço.
O motivo: prédios ecologicamente corretos tendem a ter mais apelo comercial. "Os compradores já se interessam por cuidados ambientais nos locais de trabalho e moradia", diz Manuel Carlos Reis Martins, coordenador executivo do projeto Aqua da Fundação Vanzolini, de São Paulo. Estudo da Universidade de San Diego, nos Estados Unidos, com 154 imóveis pendurados na certificação Leed revela que a produtividade cresce nos edifícios limpos porque os inquilinos ficam menos doentes (deixam de perder até 2,88 dias de trabalho por ano). Além disso, a taxa de desocupação é até 3,5% inferior à de prédios comuns e o índice de arrendamento no mercado, até 13% maior.
Com reportagem de Débora Didonê
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